This is your default notification bar which you can use to an announcement, sale and discount.

Carta aberta a todas as mães, pela vida de nossos filhos

Em mais um caso de violência praticada pela PM sob o governo de Tarcísio de Freitas, o estudante de medicina Marco Aurélio Cardenas, de apenas 22 anos, foi executado com um tiro à queima roupa em novembro de 2024. 

Ele era o filho caçula de um casal de médicos peruanos naturalizados brasileiros que se mudou para cá há mais de duas décadas. A mãe, Silvia Mónica Cárdenas Prado, que ainda busca por justiça, divulgou uma carta aberta a outras mães neste mês de maio.

Para dar visibilidade a esta causa e a tantas outras de mães que choram os filhos mortos violentamente pelo estado, a CSP-Conlutas divulga o texto na íntegra e se solidariza à Silvia Mónica, além de se colocar aberta a oferecer qualquer tipo de ajuda.

Confira a carta:

CARTA ABERTA A TODAS AS MÃES: PELA VIDA E PELA MEMORIA DE NOSSOS FILHOS

Escrita pela mãe de Marco Aurélio, estudante de medicina assassinado covardemente pelo Estado de São Paulo.

Quão difícil e fazer uma carta de socorro de ajuda para rostos que não conhecemos, porém ciente que todas temos em comum o amor que nos une a nossos filhos, aquele amor que se forma com os primeiros movimentos de esse pequeno ser em nosso útero, que se reforça com a dor física de parir e o medo instintivo de não saber cuida-los, e não importa de que cor seja nossa pele, não importa a classe social, a juventude ou mais anos já carregados nesta vida, o sentimento é universal.

Mãe deixa me contar-te minha tristeza aquela que me desgarra a alma, que me faz vir até você a contar-te sem pudores minha dor, neste segundo domingo de maio é o primeiro ano sem meu caçula, aquele que me falava mãe em tom alto e sonoro e cheio de carinho, que me mandava sem exageros 10 ou mais mensagens de zaps, que se eu não contestava mandava um monte de mãe, mãe, mãe…

Olha para teu filho ou filha e imagina por uma centésima de segundo que ele ou ela se foi para sempre não importando o porquê, imagina que nunca mais vãs olhar esse rosto, escutar sua voz e por que não dar uma bronca, imagina não sentir seu cheiro e as roupas que tinham o cheiro de ele o tempo já levou e ele só fica em tua memoria, a morte de um filho é a dor mais grande e inimaginável que existe.

Eu tinha um filho lindo, forte e feliz, que a Polícia Militar de São Paulo assassinou covardemente, no 20/11//2024, estando ele sem camiseta, desarmado na frente de uma grade sem poder correr e foi deixado quase morrer esperando um auxilio que demorou tanto, tanto tempo a chegar e o mais irônico na frente de um hospital no centro da Vila Mariana. A próxima vez que eu o vi foi em uma mesa cirúrgica sem vida. Cheia de lagrimas cai de joelhos, tentei abrir os olhos dele, mais já não tinham vida; um véu cobria esses olhos lindos chorei e cantei aquela nossa música aquela que os dois amávamos. Marco Aurélio era seu nome, tinha 22 anos e ia se formar de médico este ano.

Imagina agora outras histórias parecidas de outras mães que sofrem aguardando uma justiça sem tempo, justiça que demora cinco, dez, até quinze anos neste nosso Brasil continental. Mães como Deuza que luta pelo seu garoto Thiago, Beatriz mãe da criança Ryan, Cristina mãe de Denys Henrique, Sandra mãe de Luiz Fernando, Arlene mãe de João Vitor, Marcia mãe de Renatinho, as mães de Alexandre Roberto, Jeferson, Jose Carlos, Igor, Vitoria, e outras mães e respectivos filhos inocentes arrancados de elas. Existem muitas histórias de São Paulo e Brasil todo que é impossível listar nesta carta. E te perguntarás “o que eu posso fazer frente a essa realidade tão distante de mim?”, eu também pensava assim, eu pensava que sendo profissional medica morando na Vila Mariana, bairro nobre de São Paulo estaria segura.

Nunca imaginei que a maldade que estava pressa na Caixa de Pandora iria me atingir, porem aqui estou chorando sem meu filho na cercania de este 11 de maio dia internacional das Mães. Venho a pedir a você e a todas as mães de que unamos nossas vozes e cobremos aos governantes, magistrados, forças policiais e políticos para fazer seu trabalho de cuidar as pessoas e punir quem merece, quem faz do ato de matar um ato banal, temos que proteger a sociedade sim, porém isso não justifica o despreparo de alguns policiais que matam futilmente e seus atos irresponsáveis ficam impunes, deixando em nós, mães, a sensação de perda e humilhação como se nossos filhos fossem descartáveis e não tivessem valor social, unamos nossa vozes.

Peçamos também com urgência um decreto para criação e execução de ações de socorro e acolhimento das famílias cujas lágrimas são intermináveis e sua angustia pela nossa justiça sem fim é destrutiva, para aliviar seu sofrimento emocional, psicológico como consequência de crimes de Estados que violam os direitos estabelecidos na Constituição da República que em seu artigo 5º, que garante a inviolabilidade do direito à vida a todos os cidadãos, o direito de não ser morto como também a uma existência digna. Acredito que a força de uma mãe, aquela leoa que existe em cada uma de nós, vai nos permitir unirmos e pedir para os acima mencionados que…

Parem de matar nossos filhos! É a hora de mostrar todos a grandeza da nossa alma e o mérito de ter vivido, que será a única coisa que levaremos para a Eternidade.

Dra. Silvia Mónica Cárdenas Prado Médica Intensivista do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo

About the Author

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

You may also like these