Os estudantes de Letras da USP (Universidade de São Paulo) iniciaram a semana travando uma importante luta em defesa da universidade pública, gratuita e de qualidade. Na noite desta segunda-feira (18) foi iniciada uma forte greve contra o sucateamento do curso. A principal exigência é a contratação de professores diante de uma grave situação de falta de docentes, reivindicação que está unificando estudantes de outros cursos que também começam a aprovar paralisação.
A mobilização havia sido aprovada em assembleia na semana passada para ser iniciada nesta terça (19). Contudo, uma atitude autoritária e de repressão da diretoria no dia de ontem desencadeou a indignação dos estudantes que realizaram uma manifestação e ocuparam os prédios do curso e da administração da FFLCH (Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas) no início da noite.
Diante da greve anunciada, o diretor do curso de Letras, Paulo Martins, suspendeu as aulas nesta segunda-feira, mandou trancar o prédio e impedir a entrada dos estudantes, visando impedir a realização da assembleia. A direção chegou ao ponto de colocar a PM e a guarda universitária nos espaços estudantis com a fake news de que “o patrimônio público seria “depredado”. Com a ocupação dos prédios e a pressão da multidão de estudantes, a direção do curso de Letras acatou as quatro reivindicações apresentadas pelos alunos, numa primeira vitória do movimento estudantil.
Segundo o Coletivo Rebeldia, que compõe a direção do Centro Acadêmico da Letras e é filiado à CSP-Conlutas, os estudantes haviam aprovado quatro reivindicações: 1) Que o prédio da FFLCH fosse devolvido aos estudantes; Que a PM e a guarda universitária saiam dos espaços estudantis; abertura de negociação imediata da FFLCH e reitoria; 4) nota do Paulo Martins (diretor da FFLCH) se retratando publicamente aos estudantes da FFLCH. “Agora é seguir intensificando a luta, pela construção de uma greve unificada de todos os estudantes, professores e funcionários da USP”, afirma o movimento estudantil.
“Estamos solicitando o apoio à luta dos estudantes da USP. Chamamos o conjunto dos estudantes da USP, professores e técnicos-administrativos a construirmos uma greve unificada. É uma luta justa, por melhores condições de ensino-aprendizagem e pela existência do curso de Letras. Não vamos recuar. A nossa luta vai seguir”, declarou Mandi Coelho, ativista do Coletivo Rebeldia e coordenadora do CAELL (Centro Acadêmico de Estudos Linguísticos e Literários Oswald de Andrade).
Outros cursos aderem e trabalhadores da FFLCH aprovam paralisação dia 21/9
Ao final desta terça-feira, mais 10 cursos aprovaram greve: Geografia, História, Filosofia, Ciências Sociais, ECA (Escola de Comunicação e Artes), Oceanografia, Ciências Moleculares, Relações Internacionais, Pedagogia e EACH (Escola de Artes, Ciências e Humanidades). Outros ainda farão assembleia para decidir sobre a greve, como Enfermagem, Químicas, Veterinária e outros e entidades como a ADUSP (Associação dos Docentes) também realizará reunião para deliberar posicionamento sobre a greve dos estudantes.
Segundo o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), também filiado à CSP-Conlutas, os funcionários/as da FFLCH aprovaram paralisar no dia 21/9 contra a compensação de horas que a reitoria impõe aos trabalhadores, aumentando a jornada diária de trabalho para mascarar a falta de pessoal e para apoiar a luta dos estudantes da FFLCH.
A Assembleia de trabalhadores da USP votou o apoio à luta dos estudantes em defesa da universidade pública, pois a luta é a mesma! O Sindicato denuncia ainda o discurso da reitoria, que tenta justificar a demora na reposição de professores, “culpando” os funcionários pela velocidade lenta das contratações, quando os próprios funcionários também estão sobrecarregados com a falta de contratações.
Déficit de professores e outros pontos
No centro da reivindicação dos alunos está a exigência de contratação de professores, cujo déficit ameaça várias habilitações do curso. Protestos ocorrem já desde o início do ano, mas são ignorados pela direção e pela reitoria da USP, segundo denuncia os alunos, bem como o Sintusp (Sindicato dos Trabalhadores da USP), que também é filiado à CSP-Conlutas.
A FFLCH perdeu 71 professores desde 2014, segundo levantamento feito pelo Estadão, com base nos dados do anuário e do portal transparência da USP. Os estudantes e professores falam em um déficit de, pelo menos, 100 profissionais.
Sem a reposição dos docentes, a situação é que alunos que cursam habilitações como japonês e coreano, por exemplo, não conseguirão se formar. A situação, inclusive, não é exclusiva do curso de Letras e atinge outras faculdades da universidade. Reportagem do Estadão aponta a perda de 800 docentes em uma década e cursos com aulas canceladas.
Outra reivindicação feita pelos alunos trata-se de condições para a garantia da permanência estudantil, que visa atender os estudantes mais carentes. Os estudantes denunciam ainda o caráter privatista no processo de desmonte imposto à universidade.
Todo apoio e solidariedade
A CSP-Conlutas afirma todo apoio e solidariedade à luta dos estudantes de Letras e de toda a USP, bem como aos trabalhadores da universidade!
Abaixo o autoritarismo da direção da FFLCH e da reitoria! Pelo atendimento de todas as reivindicações!
Não à privatização! Por uma universidade pública, gratuita, de qualidade!
Com informações: Rebeldia, Sintusp