A chacina comandada pelo governador Tarcísio de Freitas é a terceira ação mais violenta da PM já registrada no estado de São Paulo, ficando atrás apenas do Massacre do Carandiru (77 mortos) e dos Crimes de Maio (108 mortos). Oficialmente, já são 16 mortos e 84 pessoas presas.
Desencadeada após a morte de um policial da Rota (Rondas Ostensivas Tobias Aguiar), a Operação Escudo, que promove a presença maciça e violenta da polícia nas comunidades, deve durar até o fim de agosto, segundo o Secretário de Segurança, Guilherme Derrite. Na quarta-feira (2), a operação também se estendeu ao Litoral Norte.
A brutalidade da ação policial e inúmeros relatos de tortura e execuções de inocentes geraram indignação e dois atos foram organizados nesta semana para exigir o fim da matança nas comunidades do Guarujá.
Na quarta-feira (2), moradores dos bairros invadidos pela polícia e entidades dos direitos humanos protestaram na Praça 14 Bis, no Guarujá. Já na quinta (3), a mobilização foi realizada em frente a sede da Secretaria de Segurança Pública do Estado, na capital paulista.
Omissão do Governo Federal
Apesar da gravidade da chacina em curso, até o momento o governo Lula ainda não adotou nenhuma medida concreta para evitar a continuação do banho de sangue. Nesta semana, até mesmo o Alto Comissariado da ONU (Organização das Nações Unidas) sugeriu a interferência das autoridades.
Neste sentido, Dina Alves, uma das lideranças das Mães de Maio, discursou aos manifestantes da mobilização em São Paulo e denunciou que, assim como o caso da Baixada Santista, o plano de extermínio de negros e moradores da periferia ocorre em todo o país.
“Nós não vamos aceitar desse governo federal que está aí esta inércia. Inércia dos ministérios e do próprio governo Lula. Nós temos que nos posicionar porque é a nossa vida que está em risco. O que ocorre na Operação Escudo, se estende pelo Brasil todo”, afirmou Dina aos manifestantes.
No ato que contou com a presença de integrantes de partidos políticos e do movimento negro também lia-se nos cartazes: “Não é guerra às drogas, é guerra aos pobres”; “Vingança não é Justiça” e “Tarcísio genocida”.
A Defensoria Pública do Estado de São Paulo já encaminhou um ofício pelo fim imediato da Operação Escudo. À Procuradoria Geral da Justiça e Ministério Publico foram enviados pedidos para que investigações autônomas busquem informações sobre os assassinatos cometidos pela PM.
Garçom morreu indo ao mercado
A morte de Filipe Nascimento é um caso emblemático de como tem agido a PM. Garçom e vendedor ambulante, ele foi assassinado no domingo (31), por volta das 20h, enquanto se dirigia a um supermercado para comprar macarrão para sua família.
Filipe tinha uma companheira, uma filha e duas enteadas. Um dia antes de seu assassinato, a PM bateu a sua porta. Enquanto atendia os policiais, um dos agentes entrou em sua casa e questionou as crianças se o “pai fazia algo de errado ou usava algo errado”.
Em outra denúncia estarrecedora, uma moradora relatou à Defensoria Pública que o marido teve de tirar o filho de oito meses do colo antes de ser executado por policiais.
O número de disparos também chama a atenção. Em um dos casos, policiais relataram ter desferido nove tiros de pistola em ocorrência envolvendo um só suspeito. O uso de fuzis também é marca desta chacina.
Basta de mortes!
O cenário de tragédia sobre a Baixada Santista e o número assustador de denúncias de irregularidades exige que toda sociedade se posicione contra a chacina de Tarcísio. Atos de rua e outras manifestações devem se intensificar para botar pressão nos governos estadual e federal.
“Os extermínios e as torturas contra os pobres fazem parte de um projeto, marcado pelo governador Tarcísio Freitas, que tem defendido a violência praticada pela polícia. O uso do aparato policial para a defesa dos interesses dos de cima e da própria corporação compõem o funcionamento da sociedade capitalista, uma sociedade que prefere defender os lucros ao invés das vidas”, afirma nota emitida pelo movimento por moradia Luta Popular, filiadoà CSp-Conlutas.
“Nós somos a favor da vida. Da vida dos de baixo, da vida dos trabalhadores e trabalhadoras pobres, e por isso nos colocamos em solidariedade e em luta ao lado dos moradores dos morros, das palafitas, dos cortiços, e das demais periferias da Baixada Santista”.