Após as cenas de barbárie, com até mesmo crianças sofrendo com a repressão policial, a Favela do Moinho, em São Paulo, amanheceu sob mais tensão, nesta quarta-feira (14), uma vez que a Tropa de Choque da PM está cercando a comunidade.
Apenas moradores têm acesso ao local. Jornalistas estão sendo impedidos de entrar na favela, bem como qualquer pessoa que se disponha a levar solidariedade aos moradores que sofrem com um despejo iminente.
Com a má repercussão da violência praticada na terça (13), o governo Lula voltou atrás e anunciou a suspensão do processo de cessão do terreno onde estão as casas. A justificativa dada é a desaprovação ao uso da força policial.
A nota do Ministério da Gestão chegar a ser uma piada de mal gosto, uma vez que jamais deveria ter concedido o direito ao despejo ao governador bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos).
Também causa estranheza o Planalto dizer agora ser contra a violência policial, uma vez que esta está presente em praticamente todos os processos de remoção forçada no país, os quais o governo federal simplesmente ignora.
Fato é que Tarcísio decidiu ignorar a suspensão do acordo. Trabalhadores da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo) retomaram a demolição das casas nesta quarta.
Moradores denunciam também que a presença ostensiva da PM tem servido para intimidar a comunidade. Residentes têm sido abordados pelos policiais diariamente, inclusive quando precisam deixar o local para levarem crianças à escola ou para trabalhar.
Na terça, dois moradores foram presos e continuam aguardando audiência de custódia, que deverá ocorrer ainda na tarde desta quarta.
“A CDHU é o vetor sistemático de violação de direitos, levando adiante um processo de expulsão cheio de irregularidades. Pessoas que já foram removidas, inclusive, reclamam da cessação de pagamento de auxílio, da cobrança de taxas e custos indevidos e não informados anteriormente”, alerta a associação dos moradores da Favela do Moinho.
A entidade também explica que a CDHU divulga informações falsas sobre o processo de remoção, com dados e números conflitantes.
“À imprensa informam que 86% da população da favela aceitou deixar suas casas mediante assinatura de termo de bolsa-aluguel no valor de R$ 800,00 e/ou oferta de cartas de crédito imobiliário social; porém em levantamento interno junto à Associação de moradores informa que apenas 68% da população aceitou deixar suas casas nessas condições”, informaram.
Toda solidariedade
A CSP-Conlutas esteve presente na comunidade nesta quarta, mas sua delegação foi impedida de entrar no local, assim como todo grupo de apoiadores. Mesmo assim, os dirigentes da Central permanecem na barreira policial montada.
Nos últimos dias, integrantes do Movimento Luta Popular, filiado à Central, estão desde o início da luta em defesa da Favela do Moinho em apoio aos moradores.
Fabiano dos Santos, membro da Executiva Nacional da CSP-Conlutas, é um dos dirigentes que permanecem no local nesta quarta-feira.
“Viemos trazer nossa solidariedade. Isso é um completo absurdo e não tem respaldo legal. A União diz que está suspendendo a cessão do terreno, mas o aparato policial continua aqui. É uma situação muito tensa e por isso viemos dar essa visibilidade”, explicou Fabiano.