Mais um caso de racismo aponta para a presença do preconceito em todos os âmbitos da sociedade brasileira. Desta vez, uma policial militar de carreira exemplar foi a vítima da desinformação e do desrespeito que atinge a maior parte da população brasileira.
Karol é integrante das forças de segurança pública há 10 anos e se preparava para um dia comum de trabalho, no 32º Batalhão da PM, em Suzano, na grande São Paulo, quando foi vítima do crime de racismo por seu oficial superior.
Ela havia acabado de adotar um penteado com tranças, uma forma de valorizar a cultura negra e sua ascendência, no entanto, seu “chefe” a obrigou a ficar cerca de uma hora e meia escondida no alojamento feminino durante uma inspeção
Apesar de justificar sua ação afirmando que havia dúvidas se o penteado era permitido na corporação, está claro que a atitude do 1º tenente do batalhão de Karol foi motivado pelo racismo.
O caso ocorreu em julho e ainda naquele mês, Karol chegou a representar contra seu superior pelo motivo constrangimento ilegal. Após o crime de racismo a policial ainda foi afastada de suas funções e locada no rancho daquele batalhão.
“Não é desconhecido que nós, negros, historicamente sofremos por opressões, como as cediças questões da escravidão, segregação e discriminação, ainda hoje temas complexos e não totalmente resolvidos, como se percebe, com todo o respeito, no caso em tela”, argumentou a soldado na representação.
Militarismo e hierarquia
Foi ainda divulgado que Karol teve de lidar com as ameaças do tenente que afirmou que poderia prendê-la, pois encontraria artigos suficientes para tal sanção. Uma mostra da situação enfrentada por policiais em todo o país organizados pelo militarismo.
“A disciplina nos quarteis é sempre bastante rígida. A hierarquia das patentes sempre se impõe de forma inquestionável, mas, a disciplina diz respeito à rotina do trabalho, não a usos e costumes. Assim deveria ser”, explica Wilson Ribeiro, integrante da CSP-Conlutas São Paulo.
Wilson ainda explica que o crime de racismo se configura uma vez que o motivo que gerou a perseguição a soldado foi um corte de cabelo comum às mulheres negras.
“Esconder a trabalhadora para seus superiores não a verem é assédio moral com método racista e machista. Usar a hierarquia para aplicar esse método é ilegal, inconstitucional e um absurdo escandaloso! É uma ditadura!”, completa.
Campanha de solidariedade
Em contato com este caso, a CSP-Conlutas São Paulo aprovou a realização de uma campanha em solidariedade a soldado Karol. As ações vão iniciar nos próximos dias e terão como objetivo principal denunciar o racismo.
O primeiro passo para organizar a campanha será a realização de uma plenária com a participação de movimentos sociais e outras organizações de trabalhadores que combatem o racismo.
Outros temas como a desmilitarização das forças de segurança pública e a necessidade de defender o direito à sindicalização dos soldados também serão debatidos, assim como o assédio moral no ambiente de trabalho.
“Por ela ter respondido ao seu superior defendendo seu direito ao penteado, tomou um processo administrativo, foi ameaçada de transferência de batalhão e acabou por ser deslocada para outra Companhia! Ninguém deve se calar diante desta situação. É preciso defender a Karol como mulher, negra e trabalhadora” conclui Wilson.