Nesta terça-feira (14), completam-se cinco anos do assassinato político da vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ) e seu motorista Anderson Gomes, após terem saído de uma atividade no centro do Rio de Janeiro.
Cinco anos de impunidade, cinco anos sem respostas para uma pergunta central: quem mandou matar a vereadora e por quê. O caráter político do assassinato já foi admitido em vários momentos por responsáveis pela investigação.
No dia 14 de março de 2018, o carro em que Marielle estava – e que era conduzido por Anderson – foi alvejado por 13 tiros, após sair de uma atividade com mulheres. Marielle morreu com quatro tiros na cabeça e Anderson com três disparos.
Durante todo esse tempo, foram presos apenas os ex-policiais militares e milicianos Ronnie Lessa, acusado de ter feito o disparo, e Élcio Queiroz, motorista do veículo que atacou a vereadora. Mas, fora isso, nunca se chegou ao(s) mandante(s) e as investigações foram marcadas por controvérsias e cinco trocas de comando.
As provas colhidas ao longo dos últimos anos trouxeram à tona denúncias de envolvimento de milícias, ex-policiais e políticos.
O desdobramento do caso mais recente é a entrada de novos promotores este ano para tentar desvendar o caso e a abertura de inquérito pela Polícia Federal, por determinação do ministro da Justiça Flávio Dino, para “ampliar a colaboração federal nas investigações”, segundo informou o governo.
Censura sob Bolsonaro
No último dia 8 de março, a EBC (Empresa Brasileira de Comunicação) inaugurou o Memorial das Palavras Proibidas, que traz um painel com a foto de Marielle.
Além da pergunta “quem mandou matar”, o painel traz palavras escritas à mão pelos empregados da EBC, termos que foram proibidos e censurados no governo Bolsonaro, e que não puderam ser tratados pelos veículos de comunicação de rádio, agência e TV da empresa pública. Marielle era um dos temas censurados.
O nome da família Bolsonaro foi relacionado ao caso em vários momentos, como, por exemplo, pelo fato de Ronnie Lessa ter sido vizinho de Bolsonaro no condomínio Vivendas da Barra, no RJ.
O ex-PM Élcio, que já tirou fotos ao lado de Bolsonaro, teria ido na noite do crime ao condomínio Vivendas da Barra, onde morava o ex-presidente e Ronnie Lessa. Registros da portaria mostraram que Élcio teria dito que iria à casa 58 (de Bolsonaro). O porteiro mudaria a versão posteriormente, depois do filho do presidente, Carlos Bolsonaro, ter tido acesso aos dados da portaria.
Há ainda várias ligações da família Bolsonaro com milicianos cariocas conhecidos, como Adriano da Nóbrega, que teve a ex-esposa e a mãe contratados por Flávio Bolsonaro quando era deputado estadual e foi assassinado na Bahia, em 2020.
Marielle Franco estava no primeiro mandato como parlamentar e tinha sido eleita com a quinta maior votação em 2016. Oriunda da favela da Maré, zona norte do Rio, tinha 38 anos, era socióloga, com mestrado em administração pública Denunciava o genocídio da juventude negra, atuava junto às comunidades e favelas cariocas; lutava pelo direito das mulheres e era defensora das minorias e dos direitos humanos.
A falta de respostas sobre os mandantes e a real motivação para o crime mostram que há uma falta de comprometimento com a resolução desse crime.
Uma impunidade que confirma os dados que colocam o Brasil como um dos países que mais matam ativistas e defensores dos Direitos Humanos, e que registra um agravamento cada vez maior da política de criminalização da pobreza e do genocídio de negros e negras nas favelas e periferias em todo o país.
Esta terça-feira (14), como vem acontecendo todos os anos, em vários locais acontecerão ações para exigir justiça. Não esqueceremos! Por Marielle e Anderson, pelas mulheres negras, pela juventude negra, por pessoas LGBTs, pelo povo pobre. Basta de impunidade!
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